quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Identidade: Mãe Luanda Mangeni (Luana Medonça)

 
"Não sou uma mãe perfeita porque deixei de buscar perfeição, só para poder amar com todos os lados do meu corpo essa bolinha que eu chamo de filho."

Me chamo Luana Karoline Gonsaga Mendonça, mas sou conhecida como Luanda Mangeni, que é meu nome artístico. Sou atriz. Desde pequena eu sempre pensava que gostaria de fazer algo pelo mundo, então escolhi fazer Teatro e me formar professora nessa área. A educação sempre foi fundamental para fazer de mim o que sou hoje.
Minha mãe sonhava que eu fosse publicitária ou advogada, mas raramente perdeu alguma apresentação minha. Meu pai? Nunca me viu atuar, mas mesmo com toda a ausência paterna com a qual declaradamente ele me obrigava a conviver eu nunca me senti à vontade atuando na frente dele. Fosse para chegar mais tarde do que o combinado ou esconder um namorico. Saí de casa bem cedo, antes dos 20 anos e deixei pra trás uma história de bastante mágoa com meu pai, que não sabe que me casei e nem que sou mãe. Quer dizer, não sabe por mim. Já minha mãe... Céus, que mulher! Digo que ela é minha “mai”, pois foi mãe e pai desde os meus 10 anos de idade. Passou 17 anos sem trabalhar, só se dedicando à casa e às filhas (tenho uma irmã 4 anos mais nova) e quando meu pai resolveu desocupar o posto de pai do ano, que levava para passear, brincava e ajudava nas tarefas escolares para ser distante, incompreensível e até cruel (saímos na mão, ele com seus quase 1,80 e sua força masculina e eu quando eu tinha 19 anos. Eu estava protegendo minha irmã.) minha “mai” foi pegar no batente com o coração miúdo por nos deixar em casa e sustentou sozinha a casa até o fim do casamento, nunca deixando de nos amar.
Meu marido eu conheci em uma situação inusitada. Dia 11/11/11. Por recomendação do meu à época ainda noivo. Ele me recomendou para um trabalho em uma escola de inglês, que gostou do que fiz e me recomendou para outra, onde conheci o Rodrigo, que é tão minha Alma Gêmea, que temos o MESMO dente torto e a MESMA dobra na MESMA orelha. Nos conhecemos dia 11/11 e no dia 15/11 eu terminava meu relacionamento/noivado de 4 anos. Dia 26/11 pedi o Rodrigo em namoro e em dezembro já morávamos juntos. Um tempo depois decidimos engravidar. Ele que é 10 anos mais velho do que eu sempre quis ser pai e eu jurava que estava pronta. Nossos testes para a gravidez começaram no primeiro perrengue financeiro pelo qual passamos. Chegamos a comer mingau de fubá porque não tinha outra coisa. Sobrevivemos. E eu continuava a jurar que estava pronta para ter um filho, mas sempre me vinham na cabeça as mensagens “mas primeiro terminar a faculdade, fazer um mestrado, dar aulas... blábláblá”. Eis que o perrengue-mor aconteceu: terminamos. Acabou o relacionamento. Erramos feio. Mas nessa vida tudo tem perdão e escolhemos voltar. Já estávamos sem usar camisinha e pílula há um ano e nada. Até que na grande e definitiva conversa de retorno eu disse: “Precisamos arcar com tudo o que um relacionamento carrega, de bom e de ruim. Você está pronto? Eu estou.”
Foi tão verdadeiro que em um mês eu estava grávida. Mas como tudo o que é bom para mim vem de surpresa, eu me assustei. Passei os 3 primeiros meses cogitando a possibilidade de interromper a gestação, ainda mais porque eu não conseguia marcar o pré-natal na rede pública. Durante todo esse período aflitivo meu marido me apoiou, abrindo mão de algo que ele desejava imensamente: a paternidade. Até que um dia eu olhei pra ele e percebi o quão egoísta eu estava sendo. Eu não precisaria abrir mão de nada grandioso, só precisaria adiar. Minha mãe voltou ao trabalho 17 anos depois de afastar-se pra cuidar das filhas, por que eu não poderia esperar alguns meses para fazer o mesmo?
Absolutamente tudo mudou a partir dali. Nunca fui contra o aborto, pelo contrário. Acho que o direito à vida só deve se impor se a vida for muito querida. Do contrário, surgirão os maus tratos e afins. Confesso que tive muito medo de me submeter à cirurgia de remoção do feto. Até tínhamos o dinheiro para tal, mas tive medo. Já estava no terceiro mês de gestação, o mês limite e a ANVISA havia recolhido assim que chegaram ao Brasil os remédios abortivos comprados no exterior. Mas também percebo que acima do medo havia um pouquinho de amor já. Quando disse ao meu marido que teríamos aquele filho e que eu seria a melhor mãe do mundo a sensação foi a mesma de dizer: “Olha! Duas linhas rosa no bastão. Vamos ser pais!” Foi o verdadeiro começo ali. Nada, absolutamente nada paga a paz de espírito e a alegria que eu vi no rosto do homem que eu amo.
A gravidez foi muito boa, passei apenas por aquelas coisas de toda grávida. Mas não enjoei, só ficava mareada. Quase não engordei e meu médico quase me “expulsou” do clube das gravidinhas quando descobriu que eu dormi bem a gestação inteirinha. Eis que no dia 30 de Julho de 2013 às 21h em ponto a minha bolsa rompeu. Segui as instruções do médico e às 2h da manhã estava indo para a maternidade. Uns acessos de vômito na Av. Rebouças (peço sinceras desculpas ao motoqueiro...), um quase perdido no caminho e depois de dez horas de trabalho de parto, tentando um parto normal, comecei a ter alguns desmaios leves. O anestesista de plantão chamou de “questão emocional”. O médico chamou de “precisamos verificar isso”. Recebi dois soros com glicose pingando muito rapidamente. Eu melhorei um pouco, mas o coração do bebê não reagia como deveria. A cada contração, os batimentos deveriam subir bastante, ir de 140 para aproximadamente 160/170, mas em uma das medições, baixaram para 64 e não voltavam com a velocidade desejada. Sinal de problema com o cordão umbilical. A preocupação aumentou quando comecei a perder uma grande quantidade de sangue. Foi o único momento em que meu marido fraquejou um pouco ao meu lado. Ele soltou um “ai” sofridinho que me deixou preocupada. Naqueles segundos de preocupação eu quase me esqueci de como se suporta a dor do parto. Depois de mais algum tempo o médico optou por fazer uma cesariana. Foi extremamente franco em dizer que estava com medo de arriscar a vida do bebê. Eu não pensei duas vezes em concordar. Não foi o parto que eu queria, mas foi o que eu precisava.
Até a anestesia fazer efeito, com todos os preparativos para uma cirurgia, agüentei pelo menos 30 contrações com dor intensificada porque quando vem a contração vem também a vontade de empurrar que alivia a dor, mas eu não podia empurrar porque meu bebê já estava coroando, mas tinha alguma coisa errada no cordão que sufocava ele quanto mais ele descia. Na sala de cirurgia consegui até fazer algumas piadinhas e depois do que me pareceram 5 minutos eu disse ao médico: “Doutor, não precisa abaixar o campo na hora em que for nascer, ta?” o médico me disse: “Na hora em que for o quê?”. E eu: “Nascer.” “Já nasceu” – disse o médico me mostrando meu miudinho que chorava com as gengivas à mostra.
Confesso que o pós-parto foi muito difícil para mim. Eu precisei ter um dia inteiro sozinha com meu filho para parar de me martirizar por causa da cesárea. Sentia como se fosse culpa minha o que o médico chamou de “alça” – uma dobra no cordão umbilical que passava pelo canal vaginal junto com a cabeça do bebê, dificultando o recebimento de oxigênio ao ser pressionada durante as contrações. Chorei e sofri bastante e na noite de quinta-feira (um dia depois do nascimento do Pedro) eu confessei ao meu marido que não me sentia feliz como achei que uma mãe se sentiria ao ver seu filho nascer. O apoio que o Rodrigo me deu foi essencial e no dia seguinte, quando fiquei sozinha com Pedro chorei de felicidade ao vê-lo mamar direitinho e abrir os olhos para mim. Foi ali, dois dias depois de ter meu filho que eu comecei a entender e gostar da maternidade. Conforme os dias vão passando, vou me familiarizando com o que é ser mãe e tenho muita segurança nas coisas que faço com e para meu pequeno e já aprendi que existem dores gigantescas (além das físicas, digo) que acompanham a maternidade, mas que fica tudo suprimido pela imensa felicidade que essa condição carrega. Percebi que não é pecado de vez em quando ficar cansada ao ponto do esgotamento e perder um pouco da paciência. Também percebi que chorar não faz mal e acima de tudo, percebi que não é possível amar demais, porque todo o amor que sinto por meu filho Pedro é na medida certa: a do infinito.
P.s.: O valor que paguei pelo parto é exatamente o mesmo valor de um aborto. Mas valeu muito mais a pena.



Com que idade se tornou mãe?
21 anos.

Quantos filhos, e quais idades?
1 filho. Pedro com 20 dias no momento em que escrevo.

Como você era antes, e como ficou com a chegada da maternidade?
Era despreocupada. Com a chegada da maternidade fiquei mãe (risos).

Um momento inesquecível com seu filhote: 
As fungadinhas que ele dá quando procura meu seio para mamar.

Do que você teve que abrir mão, com a chegada da maternidade, e como encarou isso?
Abri mão de terminar meus projetos profissionais nos prazos por mim estabelecidos, mas foi compensador porque também abri mão do egoísmo, da ansiedade e da neura por ser humanamente humana. Também rompi com o mito de que atrizes precisam ter corpos perfeitos. O Teatro precisa de corpos reais e meu corpo está beeeem real depois da gravidez... (risos)

O maior susto, na sua vida de mãe:
A chegada do meu filho.

Você trabalha? Qual a sua profissão?
Com diploma sou professora, atriz, palhaça, cenógrafa e figurinista. Trabalho quando a vida permite. As outras profissões sem certificado são de psicóloga, pedagoga, empregada doméstica, cozinheira e todas as coisas que a maternidade pede.

Quando você se cuida e curte o parceiro?
Me cuido sempre que dá. Não consigo me olhar no espelho e acreditar em mim usando moletom o tempo todo e sem pentear os cabelos. Acontece, mas evito. Cuido do Rodrigo o tempo todo, seja mimando em casa, levantando feito um jato de madrugada para ele poder dormir sem ser acordado pelo chorinho da hora de mamar ou na saudade enquanto ele está no trabalho.

Já fez alguma viagem com o(s) pequeno(s)? Pra onde? Como foi?
Só fiz viagens com o Pedro dentro da minha cabeça, enquanto estou com ele durante os cuidados diários e preciso dividir alguma historinha inventada ou real.

Tem bichos em casa? Qual o contato da(s) criança(s) com ele(s)?
Tenho dois gatos. Um de 5 anos e um de 2. O de 5 anos é super protetor, entende que o Pedro é um filhote também e faz vigília quando Pedro chora. O de 2 anos é doido. É a versão felina do Fúria da Noite, o dragão do filme “Como treinar seu dragão”. Ainda não foi castrado e sente ciúmes...



Quem é responsável pelos cuidados diários?
Divido as tarefas de casa e os cuidados do Pedro com meu marido. Se tem roupa para lavar e ele está de boa, ele lava. Se tem louça e eu estou livre, eu lavo. As refeições geralmente preparamos juntos para dividir esse momento que é muito importante para nós: o de preparo do alimento de cada dia que, ao ser dividido por nós, estreita nossos laços. Rodrigo costuma me dizer uma frase que acha ser de Platão: “Você só conhece alguém quando divide um saco de sal com essa pessoa”. Já dividimos mais do que um saco de sal. Espero não ficar hipertensa! (risos)

Quais os programas preferidos de mamãe com a(s) cria(s)?
Amar. Todos os beijos e abraços que eu puder dar nele.



Seu(s) filho(s) já frequenta(m) escolinha? Qual a sua participação nessa rotina?
Meu filho por enquanto só mama e dorme, mas darei todo o suporte necessário quando for a idade escolar, ainda mais porque meu marido e eu somos educadores e sabemos a diferença que faz uma educação de qualidade quando é amparada pelos pais.

Não sou uma mãe perfeita porque...
Existo. Deixei de buscar a perfeição enquanto ser humano só para poder amar com todos os lados do meu corpo essa bolinha que eu chamo de filho.

E por fim, o que é ser mãe pra você, além de "Padecer no Paraíso"? Qual o segredo para ser uma boa mãe?

Para mim, além de “Padecer no Paraíso” ser mãe é ter a maior coragem de todas: AMAR. E não tem segredo algum, é só uma coisa que se constrói aos poucos e quando digo aos poucos é sério, pois a forma como você é mãe repercute eternamente, porque quando uma mãe se vai, seus filhos a recordam com carinho. O mesmo carinho que os filhos dos filhos vão ter ao se lembrar da vovó e assim por diante e se essa mãe for realmente paciente e perseverante, nunca vai perder espaço na memória de suas futuras gerações.

3 comentários:

  1. Lindo e emocionante.
    Felicidades á você e sua nova e feliz família.

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  2. Lindo depoimento... chorei.. Parabéns pela força com tão pouca idade...

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  3. Amei o depoimento, sinceridade em cada palavra, isso é tão difícil hoje em dia, parabéns!!!

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